quinta-feira, 15 de abril de 2010

Retrato



Por momentos o tempo parou, os segundos, os minutos, as horas, deixaram de existir e tudo se resumiu a um corte de respiração. Dei então por mim estática enquanto o resto do mundo se movia, multidões atarefadas caminhavam, um pouco perdidas entre pensamentos, por baixo do mesmo céu que eu. No entanto mantinha-me imovel como o meu tempo, qual quadro tristemente pintado.

Era um mundo novo, onde tudo cativava a minha atenção, os sons ganhavam cor e forma e as imagens transformavam-se, lentamente, em melodias. Crianças despreocupadas brincavam num jardim, três amigos conversavam alegremente e uma jovem rapariga passeava com o seu cão. O seu ruído era como um azul quente e suave do fim de uma tarde de verão, convidando-me a entrar naquele sentimento...

Pouco mais à frente, no cinzento passeio, pessoas caminhavam, ora mais depressa ora mais devagar, em direcção ao que para mim era o desconhecido. Tinham um ar aterefado espalhado pelo rosto, algumas até mesmo a marca de tristeza. Ouvia a sua respiração ofegante que gritava, gritava numa lingua estranha e confusa fazendo lembrar a chuva...

E eu simplesmente parada, ouvia todas aquelas melodias que lentamente me íam pintando... E eu simplesmente parada tornei-me na tela de mil e uma almas...
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Texto: Dama de Espadas

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